Entre 1974 e 1977, era eu jovem adolescente na vivência dos
meus 15,16,17 e 18 anos, emergimos na autêntica bebedeira cultural que se viveu
neste país, depois da longa noite do Estado Novo.
Foi a época em que, através do teatro, do folclore, do
cinema, da literatura, das artes plásticas, e tantos outros eteceteras,
corremos o distrito de Viana de Castelo nessa cosia que se chamava “dinamização
cultural”, de que um dia destes voltarei aqui a excursionar em jeito de memória
escrita.
Lembro-me bem, ainda no tempo da televisão a preto e branco,
sem comando, nem forma de gravar, das imagens das ações do MFA e do Capitão Paulino
a fomentar a tal dinamização cultural pelo país.
Anos mais tarde, quase 30 anos depois começaria a minha
relação com o Francisco Faria Paulino, hoje coronel na reforma e, mais do que
um dinamizador cultural, um verdadeiro agitador cultural, sobretudo nestes anos
em que, regressado à sua Madeira natal, tem sido, através da sua Edicarte, o
organizador e produtor dos principais eventos culturais, no sentido mais alto
que o conceito possa abranger, da Região Autónoma da Madeira.
Tenho a satisfação de fazer parte da sua equipa, ajudando a construir
não só uma infinidade de fantásticas iniciativas, da música ao cinema e das
artes à literatura, e, sobretudo, fruir a sua amizade e partilhar a imensidão
do seu saber.
Nos momentos de convívio extra eventos, que vão sendo cada vez
mais raros, temos conversado sobre tanta coisa. Muita gente, sobretudo os mais
novos, não conhecem nem sabem o seu papel em muitos dos acontecimentos deste
país, e não falo só de momentos políticos do tempo da alvorada democrática, mas
de muitas outras situações. Dos tempos do Colégio
Militar às comissões de serviço militar em Moçambique e na Guiné,
passando pela Galeria Altamira, a Comissão
Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, a Expo de
Sevilha e a Expo 98, têm
sido muitas as histórias, saborosas aliás, que tenho ouvido em serões, muitas
vezes à mesa de um bar ou esplanada da zona velha da cidade entre uma Coral
gelada e uns dentinhos típicos da Madeira.
Coerente nos seus ideais, admiro-lhe não só o saber que lhe
molda o carácter, mas também a sua frontalidade. Tal como ele, não tenho paciência
para imbecis, idiotas e outros tontos que pululam pela fauna desta terra e
deste país de cenário que, escudados no diploma de filho de pai ou filho de mãe,
se julgam grandes no alto da sua pequenez.
Admiro-lhe sobretudo a sua discrição e postura anti ribalta.
É, talvez, o único Capitão de Abril que não escreveu as memórias nem lhe escreveram
qualquer livro. Tão só porque não quer! E como ele teria tanto para contar!
Apaixonado pelo mundo mágico da televisão e do cinema escreveu, produziu e apresentou diversos documentários para
a RTP-Madeira sobre a sociedade,
a história, a economia, a cultura, entre outros temas, deste arquipélago e que
têm merecido o devido reconhecimento por parte do público. E como a sua
vivência da passagem do poder do Portugal colonial para os novos governantes na
Guiné Bissau daria uma excelente série de televisão.
Deixo-vos aqui a entrevista que o meu amigo Francisco Faria Paulino
deu ao Virgílio Nóbrega na RTP-Madeira no dia 25 de Abril de 2013.
E como o Faria Paulino costuma terminar os seus programas de
televisão também vos digo “passem
todos muito bem”.