quarta-feira, 3 de julho de 2013

Emoções I

Tenho à minha frente o segundo dia útil de Julho. Anteontem foi feriado na Madeira.
O ano chegou a meio. Este ano que não sei se vai bem ou se vai mal ou se antes pelo contrário, como diria o outro!
Dou comigo a pensar em tanta coisa e de repente dou-me conta de que este último trimestre foi cheio de emoções.
Entre a rotina doméstica e profissional, vivências culturais e artísticas, amigos novos que conheci, velhos amigos que revi, familiares que reencontrei depois de dezenas de anos de ausência, viagens algo inesperadas, Abril, Maio e Junho foram meses de muita emoção à flor da pele.
Da viagem a Lisboa em Abril ainda estão na memória não só os momentos em que coloquei em dia saudades daquelas com quem partilho o quotidiano, ainda que muitas vezes á distância, e a quem chamo efetivamente de família, como os encontros com Mestre Chagas e com o Jorge.
A última vez que estive com Mestre Chagas foi seguramente há uma dúzia de anos. Personagem multifacetada, Mestre Chagas é daquelas pessoas por quem se nutre admiração e se fica agradecido para toda a vida. Ensinou-me muito do que fui profissionalmente durante uma fase da minha vida e em que trabalhámos juntos, nos idos dos anos 80 e 90 e num cenário onde ser filho de papá ou pertencer a uma família com pedigree era mais importante que a competência individual e o saber feito de cada um.
Foi um prazer revê-lo e deste reencontro ficou, efetivamente, uma emoção forte. Durante horas revivemos velhos tempos e pusemos em dia as desventuras de cada um e dos outros. Foi triste tomar conhecimento da lista de companheiros e amigos, alguns ainda bem jovens, que a morte levou de forma impiedosa.
No final deste reencontro guardei o forte abraço que me deu e o desejo de que em breve nos reencontremos e não mais fiquemos tantos anos sem contacto.
Nesse mesmo dia 12 de Abril reencontrei o Jorge e foi outra explosão de emoções.
A última vez que nos encontrámos foi há 25 anos. Precisamente em 1988, em plena Avenida da Liberdade, num encontro fortuito frente ao Cinema S. Jorge. Eu tinha vindo para Lisboa onde tinha iniciado há pouco mais de um ano uma carreira na função pública e ele era um jovem médico ainda, creio eu, na sua fase de estágio.
Temos praticamente a mesma idade. Conhecemo-nos no “glorioso” ano de 1975 em Viana do Castelo. Eu tinha chegado de Angola em Dezembro, ele viera de Moçambique. Fomos viver para o mesmo prédio.
Em minha casa éramos 11 pessoas. Uma casa onde a única coisa que havia era pessoas, porque tudo o resto era apenas paredes. Não havia mobília e a esperança era também escassa. Coisas da História, enfim…
O Jorge vivia no terceiro andar com a sua mãe, a queridíssima D. Lola, que tanto nos acarinhou. A casa do Jorge era mágica porque tinha algo que nos não tínhamos nos primeiros tempos, um aparelho de televisão. A nossa ligação ao mundo era feita através de um rádio pelo qual íamos sabendo das notícias, sobretudo do que se passava em Angola onde ficara o meu pai e outros familiares.
Em casa do Jorge passamos muitos serões vendo televisão. Víamos os telejornais inflamados da época, as sessões de canto livre, as campanhas de dinamização cultural do MFA, as séries sobre a II Guerra Mundial, os filmes do Sergei Eisenstein, os espetáculos com os saltitantes artistas chineses, os desenhos animados do Tex Avery ou dos países de Leste que terminavam com a palavra koniec e eram previamente apresentados pelo Vasco Granja.
Ambos estudávamos no Liceu de Viana e íamos juntos para as aulas e juntos regressávamos a casa e a nossa amizade foi-se estabelecendo. Ao fim de semana lá íamos até ao Cinema Palácio ou ao Teatro Sá de Miranda ver filmes para adultos, apesar de ainda não termos 18 anos conseguíamos entrar. Por vezes, quando não tínhamos aulas íamos até à Praia Norte dar uns mergulhos naquelas águas geladas entre rochas e sargaços.
Mais tarde deixei Viana do Castelo e desencontrámo-nos. Não havia telemóveis, emails, redes sociais, etc. Até aquele reencontro em Lisboa em 1988, para depois nos voltarmos a desencontrar, desta vez durante um quarteirão de anos, até que através dessa coisa chamada Facebook e ao facto de ele ter um apelido invulgar, Governa, fez com que nos encontrássemos novamente e fossemos mantendo o contacto, pelo menos via computador.
Finalmente surgiu a oportunidade e naquela tarde de 12 de Abril deste ano, 25 anos depois, o Tó e o Jorge voltaram a dar um forte abraço e lá estávamos nós, mais velhos, mais gordos, com mais ou menos rugas a falar do nossos passado comum, do passado de cada um, da família que se não conhece e uma infinidade de etecéteras.
Foi bom reencontrar o Jorge. Muito bom mesmo. Conheci ainda a mulher que veio ter connosco. Ficaram promessas de novos reencontros assim a vida nos permita.
O Jorge, melhor dizendo o senhor Dr. Jorge Governa, fez a maior parte da sua vida de médico no Exército de que agora passara à reserva.
Para além do prazer de estar com aquelas que me são queridas e que fazem parte da minha “vida de casa”, a Rosa e a Catarina, agora a viverem em Lisboa, a passagem pela capital, ainda que fugaz, sabe sempre bem e desta vez teve reencontros que mexeram comigo, apesar de o motivo que ali me levou me tenha deixado algo frustrado, uma vez que as coisas no movimento náutico nacional continuam a navegar em águas conturbadas e as vaidades de uns e os malabarismos de outros me deixem bastante triste.

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