segunda-feira, 25 de julho de 2011

Sábado de música no Jardim Municipal

Ontem, sábado, a noite da cidade do Funchal encheu-se mais uma vez de som e magia. Era o último dia do evento de world music, Festival Raízes do Atlântico, que desde 1994 tem povoado a cidade de sons únicos durante três dias no espaço intimista do auditório do Jardim Municipal. Dizem que pela última vez naquele local. Para o não deverá ter lugar no “festódromo” do Parque de Santa Catarina. Talvez em busca de multidões que poderão quebrar o encanto da intimidade com o público como tem acontecido até aqui.

Nada melhor para quebrar os restos de mais uma semana louca na luta da sobrevivência quotidiana que sair na noite de sábado para um concerto apaziguador. E o Raízes do Atlântico veio mesmo a calhar.

A curiosidade era muita à volta do projecto “O Experimentar Nã M’Incomoda”, finalista da primeira edição do Prémio Megafone/João Aguardela. A expectativa não foi gorada ao ver os três malucos vindos dos Açores, que entraram em palco cada um com seu copo na mão com algo que não era água pela cor castanha que se percebia da assistência, munidos de uma parafernália de computadores e aparelhómetros que faziam barulho parecido com música, virtuosos, no entanto, nos instrumentos musicais que tocavam, guitarra eléctrica, baixo eléctrico, viola caipira e percussões, deixando a maioria do público meio confusos com todo o experimentalismo a que submetem o folclore açoriano. Por mim gostei desta fusão da electrónica com a música tradicional açoriana e a presença em palco dos grandes Carlos e Zeca Medeiros é uma espécie de bênção ao projecto. Ver e ouvir Zeca Medeiros cantar, como só ele sabe com aquela voz vulcânica, as “Ilhas da Bruma” com um suporte musical bastante rockeiro e um tanto espacial foi um momento sublime (vejam aqui o vídeo da actuação no CCB durante a entrega dos Prémios Megafone).


No segundo concerto deste último dia do Festival os “Banda D’Além” fizeram o favor de encher a alma da multidão que enchia o Jardim Municipal. Com uma actuação que levou ao rubro o público, o grupo de Mário André apresentou publicamente o seu último CD, “Raízes”, o terceiro da já respeitável carreira deste grupo que admiro e que tem para mim uma das melhores cantigas tradicionais madeirenses, o “A,B, C dos Amores”, do álbum “foram-se os homens ao mar”, editado em 1997.

Neste regresso dos Banda d’Além ao Jardim Municipal e ao Festival Raízes do Atlântico, onde estiveram em 2008 , descubro também que a moça que me reserva e vende os jornais do meu vício quotidiano no quiosque do Largo Padre Lomelino, no centro do Caniço, é membro deste grupo. Paula Cristina, de seu nome, é nada mais nada menos que uma das vozes, e que voz!, toca rajão, viola de arame e percussão. Parabéns Paula pelo concerto e pelo novo CD.

Da primeira à última actuação do alinhamento deste concerto da banda madeirense o público foi agarrado até ao tutano e não se fez rogado em participar da festa que os Banda D’ Além trouxeram até ao jardim municipal. Das mouriscas ao bailinho, passando pela música de salão do século XIX a festa foi total, não faltando uma plêiade de notáveis convidados que, nalguns casos deram um ar inusitado a algumas das cantigas, como por exemplo a presença de um gaiteiro de foles ou do saxofone dando um tom jazzistico à música tradicional madeirense.

Obrigado Banda D’Além pelos bons momentos vividos na noite de sábado, entrando já pelo domingo dentro. Aos amigos recomendo a compra do novo CD “Raízes”.


domingo, 24 de julho de 2011

O selo dos dias

Dias virão, dias virão
a golpes secos
de potros
no chão.

Não sei se já nasceram,
não sei onde se encontram
os dias
que amo tanto.

(No cano de um fuzil
ou no cano do espanto.)

Dias virão  virão,
lobos de aragem,
e a todos morderão
com sua liberdade.

Que pássaros
se aplumam
nas penas destes pássaros?

Serão dias saltando
aos ombros
de outros ombros,
até onde houver outros ombros
irão dias brotando.

O SELO DOS DIAS, Carlos Nejar in "o poço do calabouço"