quinta-feira, 5 de abril de 2012

Dia do Pai

Hoje é Dia do Pai. Sim, por muito que possa parecer estranho, para mim hoje é Dia do Pai.
Quando se tem uma filha, única por sinal, ausente noutra parte do país e com o mar imenso a separar-nos, o dia da sua chegada é, pois, Dia do Pai. Além disso, desde o Ano Novo que não nos vemos.
Hoje será também, obviamente, Dia da Filha, como será também o Dia da Mãe, pelas mesmas razões.
Contam-se os dias, as horas, os minutos, os segundos, anseia-se a sua chegada.
Será breve a estadia. Coisa de escassos três dias. Não importa o tempo, por mais fugidio que ele seja, se o reconforto proporcionado é incomensurável.
Que bom que é ter uma filha.
E hoje, que é Dia do Pai, apetece-me recordar as suas palavras no Dia do Pai, o dia convencional, aquele em que os menininhos das escolas fizeram prendas de materiais reciclados ou pintaram t-shirts do “maior pai do mundo”.
Nos seus 23 anos ela já não recicla materiais para prendinhas ao pai. O jornalismo, o trabalho editorial, a publicidade e tantos etecéteras por onde se vai mexendo e de que me orgulho, ensinaram-na a burilar, em arabescos de filigrana, palavras doces que pendura no meu coração.

“A falta de tempo, a falta de oportunidade, a falta de tudo...
Hoje faz dois anos que me foi atribuída a revista que hoje tenho em mãos. A 19 de Março de 2010 era oficialmente a pequena estagiária que, mostrando o que valia em 5 meses na empresa, estava a agarrar o que seria uma tábua salvadora dos dias de hoje da empresa onde trabalho.
Lembro-me de te ligar e dizer: hoje tenho uma prenda especial para ti... Para te dizer que a tua filha “é oficialmente a editora de alguma coisa e o seu trabalho, a partir de hoje, será visto por alguém, por pequenos muitos “alguéns”.
Dois anos depois estou mais velha, mais consciente, mais absorvida por uma energia negativa que paira num país, numa vida que sinto que não é aquela com que sonhei.
No entanto, continuo a ter sonhos... Continuo a ter a enorme capacidade de achar que posso ainda fazer algo para mudar o mundo, para mudar as pessoas, para provar a mim mesma que sou capaz de algo mais.
Continuo a ter a enorme capacidade de superar as saudades... De saber superar a ideia de que hoje há quem tenha o abraço forte do pai e eu não o tenho, de pensar que um dia isto tudo vai passar e que estaremos juntos mais do que nunca.
Continuo a ter a enorme capacidade de ouvir, de escutar aquelas melodias que outros não admiram, de olhar para a arte dos outros com carinho, de ler as palavras de outros como fonte de inspiração.
E isso devo-o a ti...
Poderia escrever as palavras mais bonitas do mundo, ensaiar o texto perfeito que dissesse maravilhas do meu pai, mas não é isso que sinto e que me vem a cabeça neste momento. Sinto que neste dia, como em todos os dias que deito a cabeça na almofada, estou grata por ser tua filha e por teres-me dado a capacidade de conseguir tudo o que tenho: educação, amizade, gratidão, foça e acima de tudo amor.
Obrigada do fundo do coração por tudo. 
Amo-te!
Pimpas!”
Hoje é, para mim, Dia do Pai.
E Dia do Pai é qunado um pai e uma filha quiserem. Não acham?
  

quarta-feira, 4 de abril de 2012

De um dia agitado a uma noite agradável

Sexta-feira da semana passada foi um daqueles dias vividos a 100 à hora. Um “dia do caraças”, para usar uma linguagem, digamos assim, mais informal.
Entre a agitação de uma série de coisas para fazer a nível profissional, mais algumas preocupações pessoais, o dia terminou com uma daquelas assembleias-gerais que mais parecia um daqueles fervilhantes plenários de trabalhadores no tempo do PREC contra os patrões opressores da classe operária.
Mal conduzida por um presidente da mesa mal preparado e desconhecedor dos estatutos da instituição e uma ala radical olhando apenas para o seu umbigo e desrespeitosa para com os outros, a assembleia deixou-me com os nervos em franja e, inclusive, a tirar-me do sério no pós-assembleia.
Felizmente que dali rumei até ao Casino da Madeira, onde serenei os ânimos e aquietei a alma com o belíssimo espetáculo do Quórum Ballet que trouxe à Madeira a peça “Correr o Fado”, numa produção do meu amigo Francisco Faria Paulino, com quem tenho tido o grato prazer de trabalhar e fazer parte de algumas das boas coisas que, a nível cultural e artístico, vão acontecendo por esta ilha.
Durante hora e meia convivi entre a música e a voz de alguns dos fados mais tradicionais e alguns outros mais modernos e a ousadia de um bailado contemporâneo que a todos deixou deslumbrados. Obrigado Daniel Cardoso e toda a sua maravilhosa equipa que, mais uma vez, brindaram a Madeira com um fantástico espetáculo.
No final, com a Rosa e o Carlos, amigo com quem já não estava há muito tempo, subimos a Avenida do Infante e por ali ficámos à conversa. Na esquina com a Imperatriz D. Amélia, frente ao hotel que dizem Óscar Niemeyer desenhou, e tendo a Imperatriz Sissi a olhar-nos de soslaio, firme no seu corpo de bronze que Mestre Lagoa Henriques moldou, enquanto, do outro lado da rua se adensavam as filas dos que queriam abastecer de combustível, já que no domingo seguinte o preço do mesmo ia aumentar.
Por ali ficámos a conversar, seguramente durante hora e meia. E como soube bem! Falámos de tudo. Da crise conjuntural, dos ratos que abandonam o navio na iminência do naufrágio, dos políticos e das politiquices, de jornais e jornalistas, de negócios e negociatas, de histórias e historinhas, de bilhardices e bilhardeiros e bilhardeiras, das trintonas e quarentonas às meias dúzias que desciam a Avenida em seu jeito balzaquiano rumo à discoteca, das imberbes adolescentes em seus decotes generosos e minissaias vaporosas e saltos altos quais equilibristas desajeitados, de homens desafiando a gravidade com o peso de vapores etílicos subindo a rua, de etc., etc..
Falámos disto e daquilo. De cultura, de livros, de música e, até, de Mariguella e do seu Manual de Guerrilha Urbana e dos portugueses que ousaram partir pelo mundo fora e fazer coisas extraordinárias no tempo glorioso da Expansão e dos descendentes dos que por cá ficaram e hoje puseram este país no estado em que está. Se aqueles constituíram a gloriosa gesta de quinhentos estes, os que por cá ficaram e ainda andam, devem fazer parte da gesta de trezentos, da loja dos ditos cujos, claro.
Depois de um dia agitado foi uma noite suave e agradável e quão bem-dispostos nos pôs aos três. Venham outras sextas-feiras destas.