quinta-feira, 4 de julho de 2013

Emoções II

Depois das emoções de Lisboa naquele mês de Abril regressei ao Funchal e mergulhei diretamente no Festival de Cinema Italiano, evento para o qual trabalho há três anos a esta parte com responsabilidades na comunicação do mesmo na Madeira em colaboração com a distintíssima Edicarte. E tal como nos anos anteriores tive oportunidade de apreciar mais um punhado de bons filmes do novíssimo cinema italiano, dos quais retive o excelente “Io Sono Li”, aliás o vencedor do Festival.
“Eu sou Li”, em português mas cujo título no nosso país foi traduzido para “Li e o Poeta”  é uma belíssima película de Andrea Segre que conta a história de Shun Li, uma chinesa que se vê obrigada a trabalhar num bar de Chioggia, uma vilória na margem da lagoa veneziana e que sonha pagar o empréstimo da viagem para a Europa aos dirigentes da poderosa comunidade chinesa que dirigem os negócios locais para poder trazer o seu filho de oito anos. O filme conta a amizade de Li com Bepi, o velho pescador, poeta e imigrante jugoslavo, frequentador do bar onde ela trabalha.

A envolvência no Festival de Cinema Italiano é sempre motivo para interessantes conversas com Stefano Savio, o simpático diretor do Festival, que se apaixonou por Portugal depois de ter vindo aqui parar para fazer Erasmus, desta vez as conversas incidiram essencialmente sobre as suas expectativas em relação à extensão do seu Festival que iria decorrer no mês seguinte em Luanda, minha terra natal.
Interessantes também os momentos passados com Peter Marcias, o regista de “Dimme Che Destino Avrò”, muito interessado na cultura e na história da ilha, ele também ilhéu da Sardenha, fascinado com a Madeira depois de ter excursionado pela costa norte com o Francisco Faria Paulino, sempre impecável no seu papel de anfitrião.
Marcias apaixonou-se com o sabor da icónica laranjada madeirense, refrigerante que se produz continuamente desde 1872, e chegou mesmo a mostrar o seu interesse em filmar na nossa ilha uma história à volta da dita bebida e de um professor de história que serve de guia aos forasteiros, inspirando-se na figura do próprio Francisco Faria Paulino.
Acabado o Festival, retemperadas, quanto baste, as forças, foi o regresso ao trabalho, onde nem sequer faltou o inevitável desaguisado com gente, e chamar gente é efetivamente um favor, que se vitimiza a todo o instante e entende que o histerismo é meio caminho para se alçar ao pedestal, o que desde logo motivou a antecipação das minhas férias previstas no âmbito do meu envolvimento na Festa da Cultura do Funchal.
Durante 11 dias foram as vivências de um evento que é já uma referência da cidade e que me dá muito prazer, apesar do desgaste, participar e colaborar com uma verdadeira equipa maravilha, este ano renovada e mais depurada. Entre a Feira do Livro, com os seus lançamentos e apresentações, espetáculos de diversa índole de rua e de palco, o cortejo histórico e a leitura coletiva de a “Ilha de Circe” de Natália Correia, foram dias de muito prazer cultural.
Coincidindo o início da Festa da Cultura no dia 25 de Abril, e não tivéssemos nós na equipa um “Capitão de Abril”, comemorámos a efeméride à nossa maneira com a passagem de música ambiente dos tempos áureos da chamada música de intervenção, com todos os nomes sonantes da mesma.
Apanhámos também o 1º de Maio e, efetivamente, já não há comemorações do Dia do Trabalhador como antigamente. O Jardim Municipal foi monopolizado, como habitualmente, pelas comemorações da União dos Sindicatos da Madeira, devidamente engalanado, e durante todo o dia a música estridente foi interferindo com o nosso programa. Se estávamos à espera que a música que saísse dos altifalantes daquela celebração fosse alusiva ao dia enganem-se. Entre Quim Barreiros e forró se foi fazendo o alinhamento ao longo do dia ainda antes dos discursos.
O dia seguinte foi também de comemoração, já que coincidiu com o meu aniversário e os companheiros resolveram fazer no final do dia uma celebração simbólica, que caiu bem, com um espetacular e minúsculo bolo de aniversário, e tive ainda direito a presente do meu amigo Faria Paulino, que me ofertou “As Memórias Secretas da Rainha D. Amélia”, de Miguel Real, que aguarda na fila o momento para ser lido.

Tal como venho referindo nestas últimas crónicas, este evento foi também de emoções. Pelos acontecimentos vivenciados, o reencontro com gente que só nestas ocasiões se vê, o café com o bom amigo João Faria para pormos, ainda que fugazmente, a bilhardice em dia, o convívio com os autores e artistas, os amigos novos que se criaram, os amigos que há já tanto tempo não víamos e a quem demos um abraço apetecido, as conversas literárias e/ou culturais com este e com aquele, conforme a circunstância, a música portuguesa e madeirense, essencialmente, que libertávamos da nossa cabine de trabalho intercalada pela voz do Nuno Veiga, com uma ou outra conferência, em jeito de abraço, da música brasileira, africana de expressão portuguesa e até goesa e em momentos mais calmos uma sonata de Liszt.  
Foram 11 dias de efetiva emoção, partilhada com os nomes já referidos a que acrescento a Analisa Branco e o Fábio Correia, vários textos feitos para distribuição aos Media e mais de um milhar e meio de fotos tiradas, refeições tomadas a correr, sozinho ou em boa companhia e com boa conversa
Aproveitando os preços baixos e uma ou outra oferta, a mesa da sala lá de casa acumula agora mais uma série de livros em lista de espera para a devida leitura. Para serem lidos intercalados uns com os outros, tais os estilos diferenciados e temas apetitosos.

Gosto imenso do que faço e estes momentos, apesar do stresse contínuo, sabem sempre bem. Obrigado pelas emoções que nos oferecem.
E no dia seguinte ao evento, já desligado de tudo mas ainda com as emoções à flor da pele, o dia transforma-se em dia de glória em que cada momento é já facto a merecer um ensaio para uma “Teoria Geral do Imprevisto” que um dia há-de ser escrita.

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