quarta-feira, 4 de abril de 2012

De um dia agitado a uma noite agradável

Sexta-feira da semana passada foi um daqueles dias vividos a 100 à hora. Um “dia do caraças”, para usar uma linguagem, digamos assim, mais informal.
Entre a agitação de uma série de coisas para fazer a nível profissional, mais algumas preocupações pessoais, o dia terminou com uma daquelas assembleias-gerais que mais parecia um daqueles fervilhantes plenários de trabalhadores no tempo do PREC contra os patrões opressores da classe operária.
Mal conduzida por um presidente da mesa mal preparado e desconhecedor dos estatutos da instituição e uma ala radical olhando apenas para o seu umbigo e desrespeitosa para com os outros, a assembleia deixou-me com os nervos em franja e, inclusive, a tirar-me do sério no pós-assembleia.
Felizmente que dali rumei até ao Casino da Madeira, onde serenei os ânimos e aquietei a alma com o belíssimo espetáculo do Quórum Ballet que trouxe à Madeira a peça “Correr o Fado”, numa produção do meu amigo Francisco Faria Paulino, com quem tenho tido o grato prazer de trabalhar e fazer parte de algumas das boas coisas que, a nível cultural e artístico, vão acontecendo por esta ilha.
Durante hora e meia convivi entre a música e a voz de alguns dos fados mais tradicionais e alguns outros mais modernos e a ousadia de um bailado contemporâneo que a todos deixou deslumbrados. Obrigado Daniel Cardoso e toda a sua maravilhosa equipa que, mais uma vez, brindaram a Madeira com um fantástico espetáculo.
No final, com a Rosa e o Carlos, amigo com quem já não estava há muito tempo, subimos a Avenida do Infante e por ali ficámos à conversa. Na esquina com a Imperatriz D. Amélia, frente ao hotel que dizem Óscar Niemeyer desenhou, e tendo a Imperatriz Sissi a olhar-nos de soslaio, firme no seu corpo de bronze que Mestre Lagoa Henriques moldou, enquanto, do outro lado da rua se adensavam as filas dos que queriam abastecer de combustível, já que no domingo seguinte o preço do mesmo ia aumentar.
Por ali ficámos a conversar, seguramente durante hora e meia. E como soube bem! Falámos de tudo. Da crise conjuntural, dos ratos que abandonam o navio na iminência do naufrágio, dos políticos e das politiquices, de jornais e jornalistas, de negócios e negociatas, de histórias e historinhas, de bilhardices e bilhardeiros e bilhardeiras, das trintonas e quarentonas às meias dúzias que desciam a Avenida em seu jeito balzaquiano rumo à discoteca, das imberbes adolescentes em seus decotes generosos e minissaias vaporosas e saltos altos quais equilibristas desajeitados, de homens desafiando a gravidade com o peso de vapores etílicos subindo a rua, de etc., etc..
Falámos disto e daquilo. De cultura, de livros, de música e, até, de Mariguella e do seu Manual de Guerrilha Urbana e dos portugueses que ousaram partir pelo mundo fora e fazer coisas extraordinárias no tempo glorioso da Expansão e dos descendentes dos que por cá ficaram e hoje puseram este país no estado em que está. Se aqueles constituíram a gloriosa gesta de quinhentos estes, os que por cá ficaram e ainda andam, devem fazer parte da gesta de trezentos, da loja dos ditos cujos, claro.
Depois de um dia agitado foi uma noite suave e agradável e quão bem-dispostos nos pôs aos três. Venham outras sextas-feiras destas.

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