domingo, 24 de junho de 2012

Primeiro sábado de verão

Levantei-me tarde. Era sábado e decidi ficar preguiçar na cama. Apesar de ontem me ter deitado cedo, aí por volta das dez e meia.
Um banho “acordador” e uma ida ao café, cumprindo o ritual habitual ao fim de semana, não sem antes passar pelo Largo da Igreja e levantar o Expresso que está sempre reservado em meu nome há já tantos naos. Pelo menos desde que moro no Caniço. Hoje estava de turno no quiosque a empregada magricelas, carrancuda, a quem nunca vi sorrir e a quem pouco mais ouvi dizer o que bom dia ou boa tarde e o preço a pagar. Feitio!
Na Lareira somos servidos, eu e a Rosa, pelo empregado mais antipático que por lá existe. Hoje não foi um dia sim, de todo. Este fulano é efetivamente estúpido, por vezes mal-educado, e o facto de ser portista fanático faz com que todos os que não sejam se apresentem como seus inimigos e chega até a ser inconveniente. Íamos, eu e a Rosa, com a ideia, apesar de ser um pouco tarde, de comer peixe, mas com tanta dificuldade que o dito cujo impôs desistimos e ficámo-nos por um prego em bolo do caco que, apesar de bom, não veio como pedimos. Pingando manteiga e alho em demasia para o que tínhamos solicitado!
Leio o Diário de Notícias que, em parangonas volta a preocupar-se com as viagens do AJJ e dos custos das ditas, dando destaque também à entrevista com a Secretária do Turismo anunciando, olha que novidade, que o novo cais custa mais 3 milhões. Detenho-me numa pequena notícia, que me sensibiliza, sobre uma bebé operada no útero da mãe a um tumor na boca com o tamanho de uma bola de ténis, extraído por uma equipa de médicos norte-americanos, operação realizada em 2010 e só agora anunciada, quando a bebé tem já 20 meses. Fantástico!
Comido o prego, dada uma vista de olhos às gordas do Expresso, lidos os suplementos, tomando nota do que se passa nas Letras e nas Artes através do Atual, terminando a leitura com outro ritual de há muitos anos. Fazer as palavras cruzadas do Expresso com cronómetro, tendo por objetivo fazê-las em cinco minutos. Hoje não consegui. 5:16.21! Foi por pouco.
Antes de sair entretenho-me durante algum tempo com o Futsal que passa em direto na televisão. É o jogo decisivo do Campeonato Nacional e o meu Benfica ganha por 5 a 4 num jogo emotivo, para desgosto do empregado mal-educado, que não sendo sportinguista, não gosta de ver os benfiquistas, que eram alguns na sala, bem-dispostos.
Saímos para a rua, onde o sol abrasador reflete-se de imediato no nosso corpo, e rumámos a casa. No caninho passámos pelo Joker, um café famoso da nossa vizinhança e que esteve fechado durante algum tempo e está agora aberto com nova gerência. Ao passar pela esplanada a Rubina, que ali estava sentada ao sol, convidou-me a sentar. A Rosa ficara para trás, a conversar com a sócia da Rubina na loja delas, logo ali na esquina. Tomei mais um garoto e conversámos sobre praia, livros, motos, etc. Um dia destes falarei da Rubina e da sua história de vida, uma miúda corajosa com um percurso feito de dificuldades e obstáculos mas com um otimismo incrível e quer agarrar o futuro com força.
Chegado a casa passei pelo twitter para ver oco anda o mundo no que aos meus interesses diz respeito. Livros, artes, atualidade política nacional e internacional, música, vela e por aí fora. Não “tuitei”, limitei-me a ler.
Li os emails e animei-me com as notícias que o Nuno me ia dando e, tenho a certeza, haverá boas novidades em breve sobre uma luta que, arduamente, temos vindo a travar.
De repente lembro-me que tenho que sair para Santa Cruz pois neste sábado disputou-se a Regata de Cruzeiros da Taça da Madeira e a entrega de prémios é às 19H00 e, como presidente da Associação Regional de Vela tenho que marcar presença. Com um bocadinho de sorte a cerimónia é rápida e ainda venho a tempo de ver o Espanha-França para o Euro 2012 e torcer para que nuestros hermanos percam e resolvamos, nas meias finais, a espinha atravessada da França desde o Euro 2000.
Mas como disse no início hoje não era dia sim. Passava já das oito da noite e apenas uma das cinco tripulações que participaram na regata estava presente. Entretivemo-nos entre dois dedos de conversa, dois ou três copos de Coral e um dentinho de joelheira na esplanada da barraca do Iate Clube de Santa Cruz, instalada no largo onde decorrem ss festas de S. João. Um vento desagradável não nos largou e só as nove e meia entreguei o troféu ao segundo classificado pois os restantes premiados não puseram os pés na festa. Perto das dez da noite vim-me embora, já com uma tremenda dor de cabeça. Talvez pelo vento que apanhei e, florzinha de estufa que me tornei nestes últimos anos, os espirros não me largaram até chegar ao carro.
De volta a casa regresso ao computador para atualizar a leitura de emails, passara pelo twitter e  cronicar este texto, entre uma pausa para ir vendo telejornais desde o dia 25 de Maio, atualizando o clipping da Festa da Cultura Funchal  2010 e do Festival de Música da Madeira para os relatórios finais sobre o impacto deste eventos nos media, eventos nos quais  desempenhei responsabilidades de press officer e gestor das plataformas de comunicação digital e redes sociais. Avanço com o forward na parte da política e só me detenho no que me interessa. De algum tempo a esta parte tenho tido cada vez menos vontade para ir acompanhando a política regional e acho que, nesse aspeto, a minha caderneta de cromos está já completa.
Entre um copo de leite e uma bolacha vou pausando a escrita e lendo algumas páginas do Expresso. Ligo o rádio e fixo-me na música que a Antena 1 passa a esta hora. A rádio foi sempre uma companhia fascinante na minha vida. Um dia destes escreverei sobre a influência da rádio no meu percurso de cidadão, desde a infância aos dias de hoje. Esse aparelho, que continua ainda a revestir um certo encanto e magia para mim, está em todo o lado em casa. Na sala, nos quartos, na casa de banho. E até quando estou a cozinhar o rádio tem que estar ligado.
Para final do relato do primeiro sábado de verão deixo aqui a música que cabo de ouvir no rádio.


quinta-feira, 5 de abril de 2012

Dia do Pai

Hoje é Dia do Pai. Sim, por muito que possa parecer estranho, para mim hoje é Dia do Pai.
Quando se tem uma filha, única por sinal, ausente noutra parte do país e com o mar imenso a separar-nos, o dia da sua chegada é, pois, Dia do Pai. Além disso, desde o Ano Novo que não nos vemos.
Hoje será também, obviamente, Dia da Filha, como será também o Dia da Mãe, pelas mesmas razões.
Contam-se os dias, as horas, os minutos, os segundos, anseia-se a sua chegada.
Será breve a estadia. Coisa de escassos três dias. Não importa o tempo, por mais fugidio que ele seja, se o reconforto proporcionado é incomensurável.
Que bom que é ter uma filha.
E hoje, que é Dia do Pai, apetece-me recordar as suas palavras no Dia do Pai, o dia convencional, aquele em que os menininhos das escolas fizeram prendas de materiais reciclados ou pintaram t-shirts do “maior pai do mundo”.
Nos seus 23 anos ela já não recicla materiais para prendinhas ao pai. O jornalismo, o trabalho editorial, a publicidade e tantos etecéteras por onde se vai mexendo e de que me orgulho, ensinaram-na a burilar, em arabescos de filigrana, palavras doces que pendura no meu coração.

“A falta de tempo, a falta de oportunidade, a falta de tudo...
Hoje faz dois anos que me foi atribuída a revista que hoje tenho em mãos. A 19 de Março de 2010 era oficialmente a pequena estagiária que, mostrando o que valia em 5 meses na empresa, estava a agarrar o que seria uma tábua salvadora dos dias de hoje da empresa onde trabalho.
Lembro-me de te ligar e dizer: hoje tenho uma prenda especial para ti... Para te dizer que a tua filha “é oficialmente a editora de alguma coisa e o seu trabalho, a partir de hoje, será visto por alguém, por pequenos muitos “alguéns”.
Dois anos depois estou mais velha, mais consciente, mais absorvida por uma energia negativa que paira num país, numa vida que sinto que não é aquela com que sonhei.
No entanto, continuo a ter sonhos... Continuo a ter a enorme capacidade de achar que posso ainda fazer algo para mudar o mundo, para mudar as pessoas, para provar a mim mesma que sou capaz de algo mais.
Continuo a ter a enorme capacidade de superar as saudades... De saber superar a ideia de que hoje há quem tenha o abraço forte do pai e eu não o tenho, de pensar que um dia isto tudo vai passar e que estaremos juntos mais do que nunca.
Continuo a ter a enorme capacidade de ouvir, de escutar aquelas melodias que outros não admiram, de olhar para a arte dos outros com carinho, de ler as palavras de outros como fonte de inspiração.
E isso devo-o a ti...
Poderia escrever as palavras mais bonitas do mundo, ensaiar o texto perfeito que dissesse maravilhas do meu pai, mas não é isso que sinto e que me vem a cabeça neste momento. Sinto que neste dia, como em todos os dias que deito a cabeça na almofada, estou grata por ser tua filha e por teres-me dado a capacidade de conseguir tudo o que tenho: educação, amizade, gratidão, foça e acima de tudo amor.
Obrigada do fundo do coração por tudo. 
Amo-te!
Pimpas!”
Hoje é, para mim, Dia do Pai.
E Dia do Pai é qunado um pai e uma filha quiserem. Não acham?
  

quarta-feira, 4 de abril de 2012

De um dia agitado a uma noite agradável

Sexta-feira da semana passada foi um daqueles dias vividos a 100 à hora. Um “dia do caraças”, para usar uma linguagem, digamos assim, mais informal.
Entre a agitação de uma série de coisas para fazer a nível profissional, mais algumas preocupações pessoais, o dia terminou com uma daquelas assembleias-gerais que mais parecia um daqueles fervilhantes plenários de trabalhadores no tempo do PREC contra os patrões opressores da classe operária.
Mal conduzida por um presidente da mesa mal preparado e desconhecedor dos estatutos da instituição e uma ala radical olhando apenas para o seu umbigo e desrespeitosa para com os outros, a assembleia deixou-me com os nervos em franja e, inclusive, a tirar-me do sério no pós-assembleia.
Felizmente que dali rumei até ao Casino da Madeira, onde serenei os ânimos e aquietei a alma com o belíssimo espetáculo do Quórum Ballet que trouxe à Madeira a peça “Correr o Fado”, numa produção do meu amigo Francisco Faria Paulino, com quem tenho tido o grato prazer de trabalhar e fazer parte de algumas das boas coisas que, a nível cultural e artístico, vão acontecendo por esta ilha.
Durante hora e meia convivi entre a música e a voz de alguns dos fados mais tradicionais e alguns outros mais modernos e a ousadia de um bailado contemporâneo que a todos deixou deslumbrados. Obrigado Daniel Cardoso e toda a sua maravilhosa equipa que, mais uma vez, brindaram a Madeira com um fantástico espetáculo.
No final, com a Rosa e o Carlos, amigo com quem já não estava há muito tempo, subimos a Avenida do Infante e por ali ficámos à conversa. Na esquina com a Imperatriz D. Amélia, frente ao hotel que dizem Óscar Niemeyer desenhou, e tendo a Imperatriz Sissi a olhar-nos de soslaio, firme no seu corpo de bronze que Mestre Lagoa Henriques moldou, enquanto, do outro lado da rua se adensavam as filas dos que queriam abastecer de combustível, já que no domingo seguinte o preço do mesmo ia aumentar.
Por ali ficámos a conversar, seguramente durante hora e meia. E como soube bem! Falámos de tudo. Da crise conjuntural, dos ratos que abandonam o navio na iminência do naufrágio, dos políticos e das politiquices, de jornais e jornalistas, de negócios e negociatas, de histórias e historinhas, de bilhardices e bilhardeiros e bilhardeiras, das trintonas e quarentonas às meias dúzias que desciam a Avenida em seu jeito balzaquiano rumo à discoteca, das imberbes adolescentes em seus decotes generosos e minissaias vaporosas e saltos altos quais equilibristas desajeitados, de homens desafiando a gravidade com o peso de vapores etílicos subindo a rua, de etc., etc..
Falámos disto e daquilo. De cultura, de livros, de música e, até, de Mariguella e do seu Manual de Guerrilha Urbana e dos portugueses que ousaram partir pelo mundo fora e fazer coisas extraordinárias no tempo glorioso da Expansão e dos descendentes dos que por cá ficaram e hoje puseram este país no estado em que está. Se aqueles constituíram a gloriosa gesta de quinhentos estes, os que por cá ficaram e ainda andam, devem fazer parte da gesta de trezentos, da loja dos ditos cujos, claro.
Depois de um dia agitado foi uma noite suave e agradável e quão bem-dispostos nos pôs aos três. Venham outras sextas-feiras destas.

domingo, 29 de janeiro de 2012

O que me apetece dizer e dizer o que me apetece...

Esta coisa de ter um blog tem que se lhe diga! Sempre desejei ter um. Um dia, nos idos de Julho do ano passado, pus mãos à obra. Apetecia-me falar disto e daquilo. Falar das vivências desta vida vivida e cheia de redundâncias e pleonasmos. Escrever crónicas do caraças de um quotidiano que tem sido, na maioria das vezes, padrasto. Contar coisas que me apetecem. Falar de experiências e, quiçá, ter alguns seguidores que partilhem o que por aqui se for dizendo. Enfim, falar disto e daquilo, do bric-à-brac com que se faz os dias. Colar em cada dia o respectivo selo.
E foi assim que me apareceu, do íntimo do subconsciente, o Carlos Nejar, poeta gaúcho de Porto Alegre, nascido em 1939, formado em Direito, “procurador de processos, almas e poemas”, que descobri em 1985 quando andava pelo país tratando de publicações e livros e a sua obra, editada pela mítica Editora Record, fazia parte do catálogo que então a empresa distribuía em Portugal.
E foi assim que para nome do blog tomei de empréstimo ao Carlos Nejar o selo dos dias, penúltimo poema do livro “o poço do calabouço”, assim mesmo com título em minúsculas, poema aqui reproduzido na apresentação deste blog, qual registo de vez em quando das tais crónicas do caraças.
A verdade é que, desde a criação do blog em Julho, não voltei a editar qualquer texto. Não sei se a arte e o engenho, como dizia o outro, me vão ajudar a manter, com alguma assiduidade, estes escritos.
o selo dos dias! São tantas as coisas para fazer num dia-a-dia super-ocupado e com tantas outras ocupações e preocupações. Apesar disso, das ocupações e preocupações e outros etecéteras, apetece-me escrever e, mais do que isso, partilhar o que me apetece dizer e dizer o que me apetece. Veremos…